Friends are not FOOD

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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O Ninho do Quero Quero



Um quero quero,  com sua linda plumagem negra orlada de branco na testa e na garganta e uma larga área marrom no peito, corria no  terreno baldio de um lado para outro enquanto soltava gritos e batia as asas freneticamente para defender seu ninho. Esse, com três pequenos ovos esverdeados e casca salpicada de preto, ficava quase descoberto sob uma pequena depressão no solo ali à vista de qualquer um que passasse pela calçada. Há poucos metros  o companheiro também ajudava a proteger o ninho dando vôos  rasantes nos intrusos.
 Um cão que atravessava o campinho foi ameaçado. Os dois quero queros voaram quase encostando suas pequenas garras no cachorro ao mesmo tempo em que gritavam alto.   Eles não conseguiam entender porque pessoas e animais passavam  tão perto de seu ninho se tinha tanto espaço por ali.
Não havia casas muito próximas do ninho. Defronte ao campinho havia uma casa grande aonde moravam um casal, duas meninas, muitos gatos e alguns cães que ficavam sempre  dentro do pátio. Ao lado, na outra esquina uma casa amarela aonde vivia um casal de mais idade que criava passarinhos. Os quero queros consideravam aquele um bom local para  seus ovos. No entanto, naquele bairro tinha uma escola, com alunos de todos os  tamanhos  manhã e tarde  e o quero quero percebeu que em nos horários de entrada e saída, eles teriam que ficar mais alertas.
Uma chuva grossa tocada por um forte vento começou. Os dois quero queros permaneceram no campinho um protegendo os ovos e o outro há uns 3 metros. A chuva continuou sem parar por horas e horas e a água começou a se acumular formando poças  sobre a grama. Como os pingos engrossaram muito e não havia mais um local seco , uma das aves voou e o outro ficou sobre o ninho. O que ficou percebeu que na casa em frente, o casal se preocupava com o  seu destino, indo na janela minuto a minuto e observar  a chuva e o acúmulo de água.
Quando a chuva cessou a outra ave retornou e as duas juntas bateram as asas soltando gritos.  O ninho estava a salvo. Uma nesga de sol surgiu atrás das nuvens  grossas e arroxeadas.
Naquele mesmo dia,   na saída da escola, alguns alunos  munidos de garrafas pet cheias de água fizeram uma guerra  arremessando as uns contra os outros na maior algazarra. O contato da garrafa cheia   com o chão surtia o efeito de um tiro. As duas aves voaram baixo e gritavam no meio deles batendo  freneticamente as asas. Os alunos deixaram o campinho correndo com as mãos na cabeça  rindo muito. Um deles, porém alcançou o ninho e pegou um dos ovos arremessando –o contra um outro menino.
Tão rápido quanto vieram, os meninos  se dispersaram. O casal de quero queros voltou para o ninho e como ainda restassem dois  ovos, continuaram a cuidá-lo.
Dias passaram e nada de diferente  tinha acontecido. As duas aves, ali, revezando-se  no ninho cuidavam dos  ovos restantes.
Já era tardinha, quase noite quando um motoqueiro fazendo  um barulho ensurdecedor passou por ali. Ele acelerava rápido e empinava a moto. Ia e voltava passando pertinho do ninho perto do qual os quero queros alvoroçados gritavam e voavam baixinho.
O morador da casa em frente correu e disse:
- Hei, Olha o ninho dos quero queros!  Saia daí! Isso não é lugar pra andar de moto!!
O rapaz com o rosto escondido pelo capacete saiu  do campinho  tão rápido quanto entrou, logo ganhando a rua e desaparecendo. O homem entrou em casa e disse a mulher:
-Quando você ouvir os quero queros gritando, vá ali e veja o que está acontecendo. Sempre é alguma coisa.
Ela secou as mãos num pano de pratos e virou-se para o marido: - Eu já xinguei umas crianças  ontem, mas  tenho medo de quanto mais  falar, mais eles teimarem...
- Pois é... Logo os ovos descascam e os filhotinhos já estarão  por ai. Precisamos cuidar  os gatos, então  ...
- Vou cuidar mais! Pode deixar. Por enquanto  cuidemos  dos ovos. -   sorriu - Ficarei atenta aos  gritos deles. Eles gritam sempre que alguém se aproxima do ninho...
No dia seguinte alguém deixou o portão da casa aberto e dois cães ganharam a rua. Correram pra  estrada, fizeram xixi na árvore na esquina e dirigiram-se ao campinho se aproximando do ninho. Os quero queros revoaram baixo e gritaram em vão. Um dos cães encontrou o ninho, cheirou os ovos e começou a esfregar-se, a rolar-se sobre eles. As duas aves ainda tentaram bicar o cachorro e assustá-lo com seus gritos estridentes, mas  de nada adiantou. Os ovos  foram esmagados, perdidos.
A mulher no portão  ralhou com os  cães chamando-os. Os dois começaram a correr  em direção a casa com o rabo entre as pernas.  No momento em que ela fechou o portão atrás  dos cães, percebeu  que no pelo de um deles  havia  restos de  gemas,claras e  cascas quebradas.

Ela  ainda teve tempo de olhar para o campinho e ver os dois quero queros alçando vôo em desistência. Seus gritos  foram diminuindo a medida que se distanciavam no horizonte em busca de um  lugar aonde pudessem pôr outros ovos em segurança.

Um comentário:

  1. "Seus gritos foram diminuindo a medida que se distanciavam no horizonte em busca de um lugar aonde pudessem pôr outros ovos em segurança".
    Lindo,triste e ma faz pensar na coragem e persistência em continuar suas jornadas n vida e fiquei a pensar o quanto gostaria de imitá-los...
    Amei.

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