Um quero quero, com sua linda plumagem negra orlada de branco na testa e na garganta e uma
larga área marrom no peito, corria
no terreno baldio de um lado para outro
enquanto soltava gritos e batia as asas freneticamente para defender seu ninho.
Esse, com três pequenos ovos esverdeados e casca salpicada de preto, ficava
quase descoberto sob uma pequena depressão no solo ali à vista de qualquer um
que passasse pela calçada. Há poucos metros o companheiro também ajudava a proteger o
ninho dando vôos rasantes nos intrusos.
Um cão que atravessava
o campinho foi ameaçado. Os dois quero queros voaram quase encostando suas
pequenas garras no cachorro ao mesmo tempo em que gritavam alto. Eles não
conseguiam entender porque pessoas e animais passavam tão perto de seu ninho se tinha tanto espaço
por ali.
Não havia casas muito próximas do ninho. Defronte ao
campinho havia uma casa grande aonde moravam um casal, duas meninas, muitos
gatos e alguns cães que ficavam sempre
dentro do pátio. Ao lado, na outra esquina uma casa amarela aonde vivia
um casal de mais idade que criava passarinhos. Os quero queros consideravam
aquele um bom local para seus ovos. No
entanto, naquele bairro tinha uma escola, com alunos de todos os tamanhos
manhã e tarde e o quero quero
percebeu que em nos horários de entrada e saída, eles teriam que ficar mais
alertas.
Uma chuva grossa tocada por um forte vento começou. Os
dois quero queros permaneceram no campinho um protegendo os ovos e o outro há
uns 3 metros. A chuva continuou sem parar por horas e horas e a água começou a
se acumular formando poças sobre a
grama. Como os pingos engrossaram muito e não havia mais um local seco , uma
das aves voou e o outro ficou sobre o ninho. O que ficou percebeu que na casa
em frente, o casal se preocupava com o seu destino, indo na janela minuto a minuto e
observar a chuva e o acúmulo de água.
Quando a chuva cessou a outra ave retornou e as duas
juntas bateram as asas soltando gritos.
O ninho estava a salvo. Uma nesga de sol surgiu atrás das nuvens grossas e arroxeadas.
Naquele mesmo dia,
na saída da escola, alguns alunos
munidos de garrafas pet cheias de água fizeram uma guerra arremessando as uns contra os outros na maior
algazarra. O contato da garrafa cheia
com o chão surtia o efeito de um tiro. As duas aves voaram baixo e
gritavam no meio deles batendo
freneticamente as asas. Os alunos deixaram o campinho correndo com as
mãos na cabeça rindo muito. Um deles,
porém alcançou o ninho e pegou um dos ovos arremessando –o contra um outro
menino.
Tão rápido quanto vieram, os meninos se dispersaram. O casal de quero queros
voltou para o ninho e como ainda restassem dois
ovos, continuaram a cuidá-lo.
Dias passaram e nada de diferente tinha acontecido. As duas aves, ali,
revezando-se no ninho cuidavam dos ovos restantes.
Já era tardinha, quase noite quando um motoqueiro
fazendo um barulho ensurdecedor passou
por ali. Ele acelerava rápido e empinava a moto. Ia e voltava passando pertinho
do ninho perto do qual os quero queros alvoroçados gritavam e voavam baixinho.
O morador da casa em frente correu e disse:
- Hei, Olha o ninho dos quero queros! Saia daí! Isso não é lugar pra andar de
moto!!
O rapaz com o rosto escondido pelo capacete saiu do campinho
tão rápido quanto entrou, logo ganhando a rua e desaparecendo. O homem
entrou em casa e disse a mulher:
-Quando você ouvir os quero queros gritando, vá ali e
veja o que está acontecendo. Sempre é alguma coisa.
Ela secou as mãos num pano de pratos e virou-se para o
marido: - Eu já xinguei umas crianças
ontem, mas tenho medo de quanto
mais falar, mais eles teimarem...
- Pois é... Logo os ovos descascam e os filhotinhos já
estarão por ai. Precisamos cuidar os gatos, então ...
- Vou cuidar mais! Pode deixar. Por enquanto cuidemos
dos ovos. - sorriu - Ficarei
atenta aos gritos deles. Eles gritam
sempre que alguém se aproxima do ninho...
No dia seguinte alguém deixou o portão da casa aberto
e dois cães ganharam a rua. Correram pra
estrada, fizeram xixi na árvore na esquina e dirigiram-se ao campinho se
aproximando do ninho. Os quero queros revoaram baixo e gritaram em vão. Um dos
cães encontrou o ninho, cheirou os ovos e começou a esfregar-se, a rolar-se
sobre eles. As duas aves ainda tentaram bicar o cachorro e assustá-lo com seus
gritos estridentes, mas de nada
adiantou. Os ovos foram esmagados,
perdidos.
A mulher no portão ralhou com os
cães chamando-os. Os dois começaram a correr em direção a casa com o rabo entre as pernas. No momento em que ela fechou o portão
atrás dos cães, percebeu que no pelo de um deles havia
restos de gemas,claras e cascas quebradas.
Ela ainda teve
tempo de olhar para o campinho e ver os dois quero queros alçando vôo em
desistência. Seus gritos foram
diminuindo a medida que se distanciavam no horizonte em busca de um lugar aonde pudessem pôr outros ovos em
segurança.
"Seus gritos foram diminuindo a medida que se distanciavam no horizonte em busca de um lugar aonde pudessem pôr outros ovos em segurança".
ResponderExcluirLindo,triste e ma faz pensar na coragem e persistência em continuar suas jornadas n vida e fiquei a pensar o quanto gostaria de imitá-los...
Amei.