Marcaram
o encontro para o meio dia. Depois de um ano, os dois amigos se reuniriam outra
vez. Bernardo, ansioso em rever aquele que desde sua tenra infância tinha sido
o seu maior companheiro. Olhou-se no espelho, arrumou a gola da camisa, mirou
bem um lado do rosto, depois o outro. Tudo certo. Observou o relógio. Faltava
pouco para as 11h30min. Com pouco dinheiro, decidiu que iria caminhando até o
restaurante onde se encontrariam.
Ao
chegar, escolheu uma mesa que lhe possibilitaria ver a rua e quem passasse por
ela. Veio o garçom, agradeceu com a desculpa que esperava uma pessoa, mas na
verdade ansiava por um copo de chope.
Escorado
para trás, na cadeira pensou em sua vida. Não possuía a malandragem quase que
imposta pela sociedade atual. Não via os outros como concorrentes. Mas sim como
quem precisasse de ajuda para conseguir seus objetivos, assim como ele. Não
esperava das pessoas o mal que ele não era capaz de fazer. Talvez esse fosse
seu maior defeito.
Suspirou
e virou o rosto no momento em que um enorme SUV preta estacionava tirando-lhe a
vista da rua. Transferiu sua concentração para o cardápio a la carte e os valores, achando-os um
pouco caros. Neste momento uma sombra pairou em frente à janela e o corredor.
Bernardo
levantou num susto e viu o amigo muito bem vestido num terno de linho bege, com
uma camisa marrom com alguns botões abertos. A Europa tinha lhe feito bem.
Assim
que sentou, Eduardo ergueu o braço e fez sinal para o garçom. Atirou-se para
trás e olhou para o amigo:
-
Parece que foi ontem! Como foi bom nosso tempo de escola! Lembro das
provas, quando eu colava de você... – Olhou para as roupas do ex
colega e seu olhar parou nos punhos puídos da camisa.
Um
telefone tocou. Eduardo tirou do bolso um I-Phone último modelo. Conversou pro
algum tempo, às vezes em inglês, dando altas risadas. Fora isso, o silencio
gritava entre os dois.
Não
precisou muito para se darem conta que aquele ano que passaram longe havia
separando-os de uma maneira irreversível. Comeram o almoço que Eduardo se
ofereceu pra pagar, mas Bernardo recusou.
Na
porta do restaurante se despediram com um aperto frouxo de mão sem trocar
telefones e sem olhar para trás.
Nenhum comentário:
Postar um comentário