Friends are not FOOD

Friends  are not FOOD

sábado, 19 de maio de 2018

Uma semana


Uma semana hoje sem ele aqui.
A caminha  de tecido  macio ao lado do fogão à lenha agora é ocupada por outro.  Fazem revezamento. 
Seu lugar  no meu coração, no entanto  é uma lacuna que ninguém completa. A chuva e o frio lá fora aumentam minha tristeza e abandono. Vou até a janela e vejo onde  ele foi enterrado. Sob as raízes da paineira ao lado de onde enterramos a  Sissi 3 anos atrás.
Plantei duas mudas  de flor que  agora já brotam, vejo daqui.  Embora eu saiba que  ele, seu espírito, sua essência não está ali naquele lugar frio, uma fisgada de dor me atravessa o peito. Eu sei que ele não sente mais frio, não sente desconforto, não sente nada.
Não sente nada. Esse nada, o deixar de ser, me esmaga e dilacera.
“Ah, era só um cachorro” – Vão dizer se me virem neste desespero. Não, não era só um cachorro. Era o meu amigo. O mais parceiro, aquele que me entendia só pelo olhar, pela respiração, e tom de voz. O meu Henry. O meu rei, que ia para todos os lugares comigo.
Já não era o mesmo. Tomava remédios que não podiam faltar. Bastante alheio a qualquer barulho, aos latidos dos outros que sempre  gostava de acompanhar. Não ficava mais no colo, no sofá ou na cama. Pedia pra sair. Antes tão educado e preocupado com limpeza,  agora fazia  suas necessidades em qualquer lugar. Só queria a caminha, aqui ao lado do fogão. Só se sentia confortável aqui, nesta caminha que  agora outros deitam.  Outros que também um dia vão me deixar.


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