João Temente
parou na frente do prédio onde destacava se a placa com letras grandes: Clínica Vitae. Passou pelo pátio gramado e as folhagens viçosas.
Ao lado, um enorme estacionamento. Olhou
o papel em sua mão, confirmando o
endereço e entrou sem pensar muito. No térreo, uma moça amável recepcionava atrás de uma mesa retangular de vidro muito
limpa, vestia calça e jaleco brancos. O cabelo
preso num coque no alto da nuca, deixava
bem a mostra o seu sorriso amistoso.
- Boa tarde,
Sr João. – Ela entregou a requisição que
ele lhe mostrara ao chegar. Joao jurava
que conseguiria ver até os seus sisos
- Aguarde um pouquinho, por favor. Houve um pequeno
imprevisto, mas está tudo sob controle. - Ela apontou uma das poltronas azuis dispostas na sala de espera.
– O senhor pode servir-se de café, água ou chá nas nossas
máquinas. Fique calmo.-
Sorriu novamente - Vai dar tudo
certo! É um exame rápido, e simples.
Joao abaixou a
cabeça, apertou os lábios esperando que ninguém tivesse ouvido. Era a primeira
vez que fazia o tal exame e sentia-se inseguro. Nos assentos à sua frente, aguardavam
dois homens com idades semelhantes à sua, e três mulheres
. Duas conversavam amenidades e a terceira, silenciosa, folheava
uma revista. João olhou o
relógio. Eram 9.00 h. da manhã.
A porta de
ligação entre os consultórios e a recepção se abriu. Um homem jovem vestindo
roupas alvas cuja estatura quase chegava
à soleira da porta fez sua respiração
parar. João observou o tamanho de seus dedos quando a recepcionista lhe entregou a lista dos
pacientes da manhã. Percebeu que
sua mão aberta, era maior que a folha A4. Pela primeira vez em sua vida, prestava a atenção em mãos masculinas.
Puxou do bolso
um lenço xadrez e secou o suor
que pingava. A transpiração
escorreu nas têmporas, atrás do pescoço. Levantou e foi até o bebedouro pegar um copo de água
gelada. Pensou em sair, ir embora.
- Dr. Lacerda, Bom dia! Já vou
começar a passar suas pacientes. – O sorriso dela
aumentava seu desconforto. Lacerda...Lacerda não era o nome do seu
médico. Olhou pela quinta vez o nome na requisição: Dr. V Bellfort
Soltou o ar
como se fosse um balão de aniversário desinflando, o som foi o mesmo. Os outros
pacientes na espera, o olharam curiosos, preocupados até com seu bem estar. Sorriu, sem graça e
ajeitou-se no assento.
Virou o
pescoço para o alto e suspirou. Pensou
nas piadas e brincadeiras dos amigos
quando falavam em urologistas e exame de toque retal. Sabia que era necessário
avaliar a saúde da próstata. Todos os homens
com mais de 50 anos de idade
precisavam realizar esse exame
anualmente.
A mão do médico não saía de sua cabeça, o tamanho de seus
dedos...
Não ia fazer o exame. “ Seja o que Deus quiser” - pensou -
“mas não vou fazer!”
Joao suspirou fundo e levantou. Dessa vez
soltou o ar pela boca sem fazer
barulho. Olhou para os lados planejando
a saída. Coçou o nariz e saiu à rua sem olhar para trás. Quanto mais se
afastava da clínica, mais rápido caminhava. Chegou ao carro e partiu.
Quando a médica com cabelos castanhos claros ondulados,
corpo estilo mignon, chamou o seu nome na
recepção João nem ouviu.
- Senhor João. João
Temente. – Repetiu mais alto a médica
proctologista com mãos delicadas – João
Temente.
- Doutora Vanessa – Explicou a recepcionista com voz carregada de desculpas
- Não
vi sair, mas acho que o S.
João desistiu e foi embora.
Texto Originalmente postado na Página do facebook : Borboletras
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