A impressão de Jaime era que duas adagas afiadas atravessavam as laterais da sua cabeça na
altura das têmporas. Atrás, no alto da
nuca, sentia como se um diamante maciço esmagasse um inseto peçonhento após o
outro, sem parar. Nauseado,
Jaime procurou seu quarto com a vista embaçada. Trocando as pernas,
escorando-se nas paredes, encontrou a cama onde se jogou.
Respirou fundo e soltou
o ar, como se pudesse expelir junto a dor. Repetiu sem se mover, algumas vezes seguidas. Sentiu
que alguém entrou ali. Abriu os olhos e encarou a preocupação materna.
- Estou com aquela dor outra vez, mãe. – A voz saiu rouca e fraca infantilizada pela presença dela.
- Vamos a um
especialista, fazer exames. Não é normal tanta dor. - A mulher sentou na beirada da cama e afagou a
cabeça do filho, acariciando –lhe os cabelos escuros e lisos.
- Vou ficar aqui
quieto, deitado. Se não melhorar, amanhã
iremos. – Tentou sorrir com esperanças.
- Vou trazer um
analgésico...
Falar intensificava as fisgadas. Jaime considerava-se muito grande para chorar, mas muito jovem
para não ter medo. Devagar, para não
sacudir a dor, deitou-se de costas para a porta
e ficou de lado. O choro chegou
silencioso, sem soluços. As lágrimas rolaram caladas no travesseiro.
De forma suave,
alguém entrou no quarto. Na cama, às suas costas, o colchão afundou. Sentiu uma mão fria em sua testa, como se fosse uma compressa. O coração
antes acelerado pela agonia foi
acalmando, a dor diminuindo. A mão em
sua fronte era o bálsamo que ele precisava.
- Mãe, tu é um anjo para mim. – Jaime murmurou enquanto se virava devagar e viu o quarto
vazio.
- O que tu falou, filho?
- A voz abafada vinha da cozinha onde a mãe sempre esteve. – Já estou levando o comprimido!
Ilustração Liz Quintana
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