Friends are not FOOD

Friends  are not FOOD

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Dor de Outro Mundo


A  impressão  de Jaime era que  duas adagas afiadas  atravessavam as laterais da sua cabeça na altura das têmporas.  Atrás, no alto da nuca, sentia como se um  diamante  maciço esmagasse um inseto peçonhento após o outro, sem parar.    Nauseado,  Jaime procurou seu quarto com a vista embaçada. Trocando as pernas, escorando-se nas paredes, encontrou a cama onde se jogou.
Respirou fundo e  soltou o ar, como se pudesse expelir junto a dor.  Repetiu sem se mover, algumas vezes seguidas. Sentiu  que alguém entrou ali.  Abriu os olhos e  encarou a preocupação materna.
- Estou com aquela dor outra vez, mãe. – A voz  saiu rouca e fraca infantilizada pela  presença dela.
- Vamos a um  especialista, fazer exames. Não é normal tanta dor. -  A mulher sentou na beirada da cama e afagou a cabeça do filho, acariciando –lhe os cabelos  escuros e lisos.
- Vou ficar  aqui quieto, deitado. Se não melhorar, amanhã  iremos. – Tentou sorrir com esperanças.
- Vou  trazer um analgésico...
Falar intensificava as fisgadas.  Jaime considerava-se  muito grande para chorar, mas muito jovem para não ter medo.  Devagar, para não sacudir a dor, deitou-se de costas para a porta  e ficou de lado.  O choro chegou silencioso, sem soluços. As lágrimas rolaram caladas no travesseiro. 
De forma  suave, alguém  entrou no quarto.  Na cama, às suas costas, o colchão afundou.  Sentiu uma mão fria em  sua testa, como se fosse uma compressa.  O coração  antes acelerado pela  agonia foi acalmando, a dor diminuindo.  A mão em sua fronte era o bálsamo que ele precisava.  
- Mãe, tu é um anjo para mim.  – Jaime murmurou  enquanto se virava devagar e viu o quarto vazio.
- O que tu falou, filho?    -   A voz  abafada  vinha da cozinha onde  a mãe sempre esteve. – Já  estou levando o comprimido!
                                           Ilustração  Liz  Quintana




Nenhum comentário:

Postar um comentário