Carros subiam em círculo naquela hora no estacionamento vertical procurando uma vaga. Poucos minutos faltavam para as 8 horas da manhã. Gerson observou pelo retrovisor um SUV vermelho. No volante uma motorista cuja beleza reluzia como um espelho no sol. Sem conseguir disfarçar sua admiração ficou encarando-a. A mulher saiu do carro movimentando-se como uma bailarina. Longos cabelos claros e ondulados caiam pelos seus ombros, a roupa que esvoaçava sem vento mal escondia um corpo cujas curvas fariam inveja a Afrodite. Sem conseguir vaga, contentou-se em vê-la desfilar em direção aos elevadores. Deu de ombros ao pensar que mulheres lindas como aquela, ligam para ele todos os dias.
Na manhã seguinte, o mesmo carro, a mesma hora, a mesma linda mulher Dessa vez não iria perder a oportunidade. Viu onde ela estacionou. Deu um jeito de entrar na primeira vaga à sua frente. Dessa vez, pôde ouvir o toque dos saltos de seu calçado em contato com o chão retumbando e sintonizando com as batidas cada vez mais aceleradas do seu coração.
Apressou o passo para entrar com ela no elevador. A deusa inclinou o corpo e segurou a porta sorrindo com expressão divertida. Os olhos feitos de um musgo escuro sorriram travessos. Dentes muito alvos combinavam com o rosto quase sem maquiagem. Uma mão pequena com alguns anéis e uma pulseira apertou o botão do andar pretendido.
Quando ia falar com ela, seu telefone tocou. A voz era um canto de sereia que o enfeitiçava. Apertou as mãos torcendo que a ligação terminasse logo. No entanto, ainda falando, ela saiu não sem antes levantar os olhos e sorrir.
Trabalhou manhã e tarde sem que se concentrasse em nada. Só pensava na mulher do estacionamento. Os dois encontrariam –se novamente, eles conversariam e é claro, ela se interessaria por ele. Pensou em qual restaurante iriam, que prato e que vinho escolheria para impressiona-la. Depois do jantar, a levaria a um lugarzinho mais reservado, com alguma música ao vivo. Isso tudo, se sua conversa fosse envolvente e se equiparasse a sua beleza. Se ao contrário, fosse uma mulher chata e vazia, faria como sempre. Programaria o telefone pra tocar meia hora depois do início do jantar. Se a companhia estiver agradável apenas dispensará a ligação, senão, aproveitará o ensejo com a desculpa. Sairá apressado sem nem pagar a conta. Riu sozinho, pensando que é um ótimo ator!
No final do expediente subiu pela escada de dois em dois degraus. Ao chegar ao estacionamento procurou o carro dela. Na vaga da camionete vermelha, estava um carro branco menor. Sacodiu a cabeça e sorriu confiante. Sabia que mais dia menos dia iriam se encontrar e seu plano seria bem sucedido.
Ao se aproximar do carro viu um papel branco, pequeno, preso no limpador de para-brisas. Diminui o passo, estufou o peito, olhou para o lado. Sorriu com a boca torta sem mostrar os dentes. Sabia que ela não iria embora assim, sem deixar seu contato.
Assobiava uma música quando pegou o papel. O sorriso morreu, a confiança fugiu de seu rosto ao ler:
- Multa Por Estacionar em Vaga para Deficiente
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