DEZ OLHARES PERPLEXOS
Por Luiz Antonio de Assis Brasil
A literatura é sempre um exercício de perplexidade, isto é, um olhar enviesado sobre o mundo e sobre os seres humanos. É um olhar que não aceita plenamente o que vê, porque o visto é sempre enganoso. Talvez escrevamos contos, poemas, romances, porque não queremos aceitar a vida "como ela é" e, sim, como gostaríamos que fosse; o escrito é, ao mesmo tempo, um
exercício de desolação e de conquista. Desolamo-nos com o mundo e o conquistamos pela palavra, mas nunca abandonamos nossa essencial perplexidade; é ela que nos torna vivos.
Neste livro tudo isso fica muito claro. Cada autor, cada autora, tem um olhar especí fico sobre a aventura existencial, que transcende a própria experiência para ser uma experiência comum a todos. É o que se busca na arte: a universalidade. A unir estes contos está a vida contemporânea e tudo o que
a move, desde os modernos meios de comunicação às falácias do
quotidiano.
Na qualidade de ministrante da O ficina de Criação Literária da PUCRS, a qual chega a seu 30º ano de existência, tenho o grande prazer de apresentar estes novos autores – embora alguns já tenham publicado e obtido prêmios nacionais
relevantes – certo de que para eles se abre uma caminhada que é árdua, mas que, como diz Alejo Carpentier, uma vez atingido seu ápice, os leitores a acompanham em todas as aventuras autorais. Mas, e digo eu, que nunca se abandone a perplexidade original, a de agradora do impulso criativo.
Outono de 2014
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