Friends are not FOOD

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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Ruminando

            
                                                                                             À Dorothy Parker
Isso é hora de homem casado chegar em casa?
Que ódio, que ódio. Passa por mim como se eu não existisse e vai direto pro quarto. Nem me olhou. Nem ouviu o que eu falei. Minha vontade é de dizer tudo o que eu penso tudo o que eu sinto. Não. Na verdade a minha vontade é de pegar um objeto duro e pesado, como esse enfeite de mesa aqui, e bater em sua cabeça e vê-lo cair. Cair tão baixo quanto eu estou me sentindo. Queria ver o sangue jorrando, a vida se esvaindo. Desgraçado!
Ei espera ai! Eu falei contigo, acho que o mínimo que você me deve é uma explicação. Eu não tenho nada com isso? Como assim, não tenho? Você jurou fidelidade  na frente do padre, jurou que ia ser fiel na alegria e na doença até que a morte nos separasse. E eu tô aqui, tô viva, embora nestas horas eu quisesse estar morta.Ei, você não está me ouvindo?
Filho da Puta. Ainda  ri, debochado. Vontade de bater nesta cara dele até  fazer esse risinho idiota  sumir. Se eu fosse mais forte faria ele cuspir  esses dentes com sangue, um por um, de tanto que eu ia bater. Maldito foi o dia que eu me abobei e casei com essa merda.  Devia ser proibido deixarem uma moça escolher marido antes dos 25. O que uma tonta de 20 anos sabe da vida? Só vê a aparência física, a marca do carro, e mais nada... Foi o que eu fiz... Tomei... Tomei bem naquele lugar.
O que? Você quer descansar? Sou eu que te canso? Por isso chega a essa hora? Olha pra mim, escuta o que eu falo!
Se ele não quer mais ficar casado comigo, por que não diz? Por que não é fiel consigo mesmo? Por que não fala que não quer mais? Não seria muito mais honesto? Ele deveria chegar e dizer, olha,  não tá dando mais, vamos cada um seguir pro seu lado, você pode ficar com as crianças e eu  os pego  aos finais de semana... Estou apaixonado por outra... Ai, que dor!  Eu conseguiria ouvir isso?
Sozinha eu teria a minha dignidade e poderia viver muito melhor. Viver melhor sem ele?
Não, não... Eu não poderia. Eu não saberia ser sozinha. Nada me decifra tão bem quanto uma passagem do livro da Clarice Lispector “ A Paixão Segundo G.H”  que fala na terceira perna. Ele é minha terceira perna. Acostumei-me a andar com as três e não sei e não quero andar somente com duas. Como eu poderia viver sem ele? Parece que não sei, eu não saberia nem encontrar uma razão para acordar no dia seguinte. Eu vivo por ele, para ele.
Vai tomar banho, é? Não tomou no Motel, na casa dela... no lugar  onde você estava? O quê? Como você tem coragem? Não, não fala nada! Não fala, porque eu não quero saber, não quero ouvir. Para! Para!
Meu Deus! Que fraca, que nada que eu sou que  me sujeito a essa situação. Sei que ele tem outra e aceito. Como posso? Eu sou nada sem ele, não tenho vida sem ele. Não poderia sustentar as crianças, não poderia seguir adiante. Tantos casamentos passam por fases difíceis e depois  melhoram. O nosso vai ser assim. Essa é só uma fase, só pode ser. Nós vamos passar por isso e tudo vai voltar a ser como era. Vamos ser felizes, vamos terminar de criar nossos filhos.

Você não vai comer nada? Eu aqueço algo rapidinho? Não quer? Está bem. Vamos dormir, sim. Está muito quente? Espera que eu já troco de cobertor. Está melhor, agora? Está bem. Já desligo a luz. Boa noite pra você também.

Um comentário:


  1. Então,qtos relatos ouvimos d pessoas q vivem assim???Qtas mulheres ainda dependentes d outro p seguir vivendo em pleno século XXI...nada ficcional.
    Mto bommmmmmmm

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