Friends are not FOOD

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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O armazém

Na imobiliária várias fotos de propriedades do interior de  Vinha D’Alho.  Uma delas se destacava. Os galhos dos plátanos secos pelo inverno  criavam figuras desconexas.
- O que era esse  lugar? Não parece ser somente  uma  residência. – Felícia perguntou interessada.
O agente caminhou até a ponta da mesa aonde ela  folheava  o álbum  com fotos  de várias propriedades.
- Ah, sim. Aí era   um armazém  e a morada  dos proprietários.
Sem pensar, Felícia diz que quer ver o local.
-Veja as  outras fotos...Tem  outras mais próximas da....
- Eu quero ver essa! – Ela olhou  firme enquanto  falava.
Ele aquiesceu e marcaram  para o dia seguinte bem cedo.
                                                      ***
- Terminou o papel de embrulho, Alice! Traz  outro  ligeiro!
A menina ouviu o pai  gritar e  corre. Levou um novo rolo de papel pardo que ele usava pra embrulhar   a maioria das vendas, quase todas à granel.  Sabia o quanto ele detestava esperar. Aproveitou que o pai a chamou, e ficou por ali. Foi até a frente da venda. Sabia que  era por essa hora que  Maurídes passava por ali vindo da escola com sua égua moura . Olhou na estrada ao longe e na curva viu que ele apontava. Seu coração bateu na barriga. O cabelo louro um pouco comprido mexeu com o trote da égua.  Ele notou que ela estava ali, tinha certeza. Ele a notava, sim, embora não demonstrasse. Talvez tivesse medo de seu pai, sempre tão  austero. Mesmo de longe seus olhares  se juntaram. A respiração se acelerou. Ele estava perto. Estava  quase ..
-“Aliiiice”-  Ouviu o pai chamar -  “Vai  lá  pra  casa ajudar tua mãe com o almoço”.
Por  uns instantes  seus olhares  se cruzaram. Maurídes amarrou a égua no palanque ao lado do  plátano  com suas folhas muito verdes, quase  tanto  quanto  os seus olhos. Sua boca se abriu num suspiro. Ela tinha  que ir. Ela tinha sempre que obedecer o pai.
***
-Quem morava nesta casa? -  Felícia perguntou enquanto  Ricardo desviava a camionete  dos buracos na estrada
- Tenho os  dados deles na pasta. Não são  conhecidos, faz muito tempo que foram embora.Muito tempo mesmo... Nem devem estar mais vivos. Os netos que estão negociando...
- O que houve?  -  ele  apertou a  boca
- Não sei exatamente. Mas  houve um  incêndio na casa e   a filha  mais velha do casal morreu. Desgostosos, arrendaram  as terras e  foram embora  pra cidade. Essa  propriedade  está  de mão em mão. Merece  um dono caprichoso que  cuide ...
- Como era o nome  da menina?
- Ah não sei. – Ele  desvia  os olhos  da estrada por um momento e  brinca:
- Que curiosidade!! -   depois ficou em silêncio ao ver a  seriedade da cliente.
Ela  murmurou:  - “Alice” -  e virou  o rosto pra  fora  observando a paisagem.

O carro não tinha bem parado e Felícia já  estava  descendo. Como se nunca tivesse saído dali, correu até o plátano que ficava  bem defronte a  sua casa e viu as iniciais esculpidas ainda na madeira dentro de um coração:   A e M

Um comentário:

  1. Sinara querida,

    Tua narrativa conseguiu com q eu me transportasse p o tal lugar,q lindo e o Plátano???Minha árvore preferida desde q tinha 7 anos...Ameiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

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