Friends are not FOOD

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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Dois amigos

Marcaram o encontro para o meio dia. Depois de um ano, os dois amigos se reuniriam outra vez. Bernardo, ansioso em rever aquele que desde sua tenra infância tinha sido o seu maior companheiro. Olhou-se no espelho, arrumou a gola da camisa, mirou bem um lado do rosto, depois o outro. Tudo certo. Observou o relógio. Faltava pouco para as 11h30min. Com pouco dinheiro, decidiu que iria caminhando até o restaurante onde se encontrariam.
Ao chegar, escolheu uma mesa que lhe possibilitaria ver a rua e quem passasse por ela. Veio o garçom, agradeceu com a desculpa que esperava uma pessoa, mas na verdade ansiava por um copo de chope.
Escorado para trás, na cadeira pensou em sua vida. Não possuía a malandragem quase que imposta pela sociedade atual. Não via os outros como concorrentes. Mas sim como quem precisasse de ajuda para conseguir seus objetivos, assim como ele. Não esperava das pessoas o mal que ele não era capaz de fazer. Talvez esse fosse seu maior defeito.
Suspirou e virou o rosto no momento em que um enorme SUV preta estacionava tirando-lhe a vista da rua. Transferiu sua concentração para o cardápio a la carte e os valores, achando-os um pouco caros. Neste momento uma sombra pairou em frente à janela e o corredor.
- Me dá cá um abraço!

Bernardo levantou num susto e viu o amigo muito bem vestido num terno de linho bege, com uma camisa marrom com alguns botões abertos. A Europa tinha lhe feito bem.
Assim que sentou, Eduardo ergueu o braço e fez sinal para o garçom. Atirou-se para trás e olhou para o amigo:
- Parece que foi ontem! Como foi bom nosso tempo de escola! Lembro das provas,  quando eu colava  de você... – Olhou para as roupas do ex colega e seu olhar parou nos punhos puídos da camisa.
Um telefone tocou. Eduardo tirou do bolso um I-Phone último modelo. Conversou pro algum tempo, às vezes em inglês, dando altas risadas. Fora isso, o silencio gritava entre os dois.
Não precisou muito para se darem conta que aquele ano que passaram longe havia separando-os de uma maneira irreversível. Comeram o almoço que Eduardo se ofereceu pra pagar, mas Bernardo recusou.
Na porta do restaurante se despediram com um aperto frouxo de mão sem trocar telefones e sem olhar para trás. 

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